Edição Atual

AV REVISTAS
número 3 2012/2

 

 

1- O DISPOSITIVO COMO ESTRATÉGIA NARRATIVA
Cezar Migliorin

Nos últimos anos, a noção de dispositivo tem se tornado cada vez mais freqüente na reflexão teórica em torno de dois campos específicos do audiovisual contemporâneo: o documentário e as produções ligadas à videocriação. Seu uso mais freqüente é para se referir à disposição dos elementos constituintes de uma obra. É nesse sentido que Philippe Dubois, em seu recente livro, Vídeo, Cinema, Godard (2004) fala do cinema como um “dispositivo modelo”, sala escura, silêncio, espectadores imóveis, etc. O dispositivo, neste sentido, está ligado à técnica em que as imagens são dispostas ou à técnica que cria as imagens. A utilização que faço aqui do termo é diferente.

Trata-se aqui de discutir a noção de dispositivo como estratégia narrativa capaz de produzir acontecimento na imagem e no mundo. Pensar de que forma as novas tecnologias do audiovisual são organizadas em dispositivos de criação é pensar também o estatuto da imagem contemporânea, a possibilidade e o sentido da produção de novas imagens. Desenvolvo a idéia de dispositivo de criação e produção de acontecimento no documentário Rua de Mão Dupla (2003)1, de Cao Guimarães, colocando-o em diálogo com o Reality Show, Big Brother, com a história do documentário moderno e com o presente da imagens.

2- PERCEÇÃO, IMAGEM E MEMÓRIA NA MODERNIDADE: UMA PERSPECTIVA FILOSÓFICA
Maria Cristina Franco Ferraz

Partindo dos instigantes trabalhos de Jonathan Crary acerca do processo de modernização da percepção e do estatuto do observador no século XIX, este ensaio investiga os conceitos bergsonianos de imagem e de memória, propostos em 1896, enfatizando sua estrita relação com os meios de comunicação e as tecnologias de produção e reprodução de imagens então em amplo movimento.

3- LOTUS FLOWER – DIFERENÇA E REPETIÇÃO NA PERFORMANCE MIDIÁTICA
Fabricio Lopes Silveira  

O artigo discute a noção de performance midiática, suas variações e caracterizações. Especificamente, examina o videoclipe Lotus flower, para a música homônima do conjunto inglês Radiohead, incluída no álbum The king of limbs (2011). Lotus flower dá insumos interessantes para pensarmos a performance tanto como “engajamento do corpo” quanto como jogo compartilhado entre público e artista.

4- PAISAGENS SONORAS DE ROBERT BRESSON: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS CONCEITOS DE MURRAY SCHAFER
Luíza Beatriz A. M. Alvim

Analisamos o conceito de “paisagem sonora” de Murray Schafer e observamos que o diretor francês Robert Bresson refaz o caminho indicado pelo autor, dividindo as paisagens sonoras de seus filmes em campo e cidade e apresentando a passagem entre as duas em O dinheiro. Porém, o campo de Bresson não é um idílio imaculado, como na concepção idealizada de Schafer, sendo sua atmosfera de crueldade mais próxima daquela dos livros de Georges Bernanos adaptados pelo diretor. Além disso, as qualidades musicais dos ruídos nos seus filmes, junto com o silêncio, constroem uma espécie de música concreta.

5- CINEMA, VÍDEO E VIDEOCLIPE: RELAÇÕES E NARRATIVAS HÍBRIDAS
Paula Faro

A linguagem do vídeo vem exercendo enorme influência na linguagem cinematográfica, e a relação entre cinema e vídeo tem sido discutida amplamente por diversos autores. A partir dessas discussões, tais como as que Arlindo Machado propõe em Pré-cinemas e pós-cinemas (1997) e em A televisão levada a sério (2001), as de Philippe Dubois, em Cinema, vídeo, Godard (2004), e também as de Raymond Bellour, em Entre- imagens (1997), o artigo verifica como a linguagem videográfica aproximou a linguagem do cinema à do videoclipe e vice-versa. Neste contexto, pretendemos analisar o encontro e as relações entre vídeo, videoclipe e cinema, além de identificar os elementos de confluência entre estas linguagens, contribuindo assim para o melhor entendimento dessa tendência contemporânea.

6- ARRET SUR L’IMAGE: CUANDO EL TREN DE SOMBRAS SE DETIENE
Antonio Weinrichter

Inicialmente, o artigo apresenta o gesto sinistro do cinema e da fotografia de embalsamar um pedaço de realidade e permitir o acesso ao trabalho da morte. A essa dimensão melancólica, se junta a citacional – o movimento de arrancar uma imagem de seu contexto vital – através da qual cinema e fotografia encontram formas de aproximação e distanciamento. Se o sentido último da fotografia reside em seu poder de interrupção, ela se torna um modelo para a história que, como o pensamento, deve ser detida para ser compreendida. Já o cinema é fluxo e, ao recorrer à imagem fotográfica, pode colocá-la em movimento, temporalizá-la, narrativizá-la. Quando o fluxo é interrompido, dois gestos essenciais são identificados: um narrativo, eminentemente modernista, e outro reflexivo, que permite que a imagem pense, e que se pense através dela.

7- “A LEI DA MENTE” E A RELAÇÃO COM NOVOS ESPAÇOS, MODALIDADES VISUAIS E ESPAÇOS DE VIVÊNCIA
Maria Ogécia Drigo

No artigo “A Lei da Mente” (1892), Charles S. Peirce concluiu que as ideias tendem a se difundir continuamente e a afetar outras que com elas estabelecem uma peculiar relação de afetibilidade. Após uma reflexão sobre tais ideias e uma tentativa de vinculá-las às recentes descobertas da neurociência, notadamente as de Damásio no que se refere ao papel das emoções e dos sentimentos na razão, apresentamos aspectos de novos espaços, de novas modalidades visuais, bem como espaços de vivências que se delineiam ou podem emergir considerando-se as ideias peirceanas. Para tanto, valemo-nos também de representações visuais para anunciar os aspectos mencionados, e que trazem a questão da continuidade e da fragmentação. A relevância desse artigo está no fato de questionar a problemática que se estabelece ao caracterizarmos a continuidade como orientadora do pensamento da modernidade, e a fragmentação, do contemporâneo.

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Uma resposta para Edição Atual

  1. Esse texto do Erick Felinto sobre os Spoofs é muito relevante para a minha pesquisa. Eu escrevi algumas coisas baseado nele neste post:

    Sobre o entretenimento online

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